quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

BLUE SKY ENTRE OS SEIOS

Ao entrar no bar odor de cigarro e bebida barata invadiram meu olfato. Olhar naquela meia luz e conseguir enxergar algo a mais que nuances de rostos cansados e tristes era perca de tempo e de propósito. Todos pareciam dormentes. Existe correlação entre mulheres e prozac; homens e cerveja? Pior seria não admitir o escapismo.

O balcão do boteco dava a impressão de que se meus cotovelos ficassem sobre ele, sairiam imundos. O móvel vermelho parecia grudento tamanha a quantidade de restos de wiski vagabundo, suor e depressão.
Os quatro homens que jogavam na única mesa de sinuca ocupada, logo a esquerda da entrada, por um momento, pararam. Seus olhares mediram o nosso grupo da cabeça aos pés. Morgana, já mais morta que viva, levada pelos ombros pelas amigas foi posta sobre a primeira cadeira vaga. Com essa distração creio que eles nem notaram minha fuga em direção ao banheiro. Só uma piscadela para as meninas e corri para lá. Tinha que ser rápida, precisa, certeira na dose e no tempo.
Atrás da porta do toillet a imagem foi ainda pior, o cheiro de vômito denunciava que alguém por ali esteve havia pouco tempo. Certifiquei-me que estava só naquele banheiro nojento. Entrei na última das cinco cabines, fechei a portinhola e sentada sobre o vaso abri a necessarie, retirei a agulha e introduzi o antídoto. Escondi de novo o blue sky entre meus seios no sutiã e corri para aplicar a injeção em Morgana.
O sangue escorria do ferimento no braço. O lenço colocado cuidadosamente não estancara o líquido viscoso. Ela cada vez mais branca mostrava sinais de desmaio. Ali, postada na cadeira tão indefesa e dependente dos outros e de mim era imagem que jamais imaginava como possível. Logo ela? Sempre tão altiva...
Apliquei. Agora só nos restava esperar. Só nos restava acreditar que daria certo.

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